segunda-feira, janeiro 28, 2008

@mor 2.0

Podem achar-me saudosista e terrivelmente preso ao passado, mas a realidade é que hoje tudo é demasiado rápido. Faço parte daquele grupo que viu a tecnologia chegar. Jogávamos no Spectrum mas as relações amorosas eram à moda antiga. As pessoas conheciam-se em cafés, por indução do grupo de amigos, e se quiséssemos falar com aquela pessoa que acabávamos de conhecer tínhamos, quando muito, de lhe ligar para casa. Lembro-me perfeitamente da sensação de protecção que este estado de desenvolvimento tecnológico conferia à minha vida. Depois de uma tarde no café a flirtar, sabia que voltando para casa estava protegido. As únicas formas de contactar comigo eram ligar-me para casa ou ir lá bater à porta. Em qualquer dos casos era bastante simples dar a volta à situação.


Tenho a ideia que hoje me iria sentir angustiado e à beira de ataques de pânico consecutivos e galopantes. Actualmente, ao conhecer alguém no café, é banal trocar-se de imediato o número de telefone e o e-mail (este último sob o pretexto de se adicionar a pessoa a um Instant Messager ). Um frappuccino mais tarde, 6 SMS paralelas e dois beijinhos na despedida afastam-nos do conhecimento superficial... atirando-nos para um trabalho de investigação à la CSI.


Chegados a casa vamos adicionar o novo contacto ao MSN e, com o balanço, mandamos-lhe um e-mail do Gmail. Vamos então ao Facebook, ao MySpace e ao Hi5 ver se aquele e-mail está associado a algum perfil. Caso esteja, tornamo-nos logo amigos... e começamos por investigar o grupo de contactos, os comentários por eles deixados. Pelas fotos vemos que são as amigas mais chegadas e onde passou férias nos últimos seis anos. Pelo perfil musical sabemos de que bandas gosta e odeia. Passados alguns dias começas a entender que, afinal, o Joel (que lhe manda 12 SMS por hora...) não é um primo aldeão que mora no interior profundo! É sim um matulão surfista a quem temos de apertar os calos. Cada vez que entras num desses sites reparas que a lista de amigos dela aumenta a um ritmo alucinante. Quando estás com ela no MSN já não responde com a cadência matemática de 15 segundos. Isto é um sinal. Feitas as contas... mais vale abandonar o barco. Param os cafés. Acabam os SMS. Cada vez que nos logamos no Gmail e a vemos no Gtalk tentamos sair o mais depressa possível! Com um movimento rápido desligamos o MSN e ficamos exilados digitais.


Caros amigos, vejam isto pelo lado positivo. No meu tempo era necessário adivinhar, por exemplo, os gostos musicais. Hoje, com acesso a estes dados, podemos sacar grandes coelhos da cartola.



ELE - Tenho de ir a Barcelona... é uma cidade que me fascina!
ELA - BARCELONA! Adoro a cidade! Estive lá nas férias passadas...
ELE - Gostava de lá ir ver os Tokio Hotel... seria uma combinação fabulosa!
ELA - Eu AMO os Tokio Hotel! Não fazia ideia que também gostavas deles.
ELE - Bfffff... eles são parte da minha vida!Começa-se então a pensar que existe um conjunto de afinidades dignas de atenção... et voilà !


Dr. Matrix

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei especialmente deste texto! Muito realista, mesmo!