quinta-feira, março 04, 2010

Alice no País das Maravilhas


Uma Alice que não se lembra nem parece a Alice que conhecemos, que tem de construir-se a si mesma ao longo da sua visita ao País das Maravilhas pode parecer uma estranha Alice, mas é, com propriedade, a Alice que conhecemos numa encarnação inteligentemente actual.
Uma Alice que se atirou de cabeça - ou se deixou cair, se preferirem - à aventura numa terra imaginada quando lhe exigiram que se tornasse adulta.

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Porque no período dela, tornar-se adulta significava, acima de tudo, tornar-se servil para com o marido que lhe escolhiam e subjugar-se à sua condição de mulher.
Só que Alice não o aceita, escapando para um mundo em que o seu papel é fundamental, onde a sua vida assume significado.
É pela sua escapatória para um mundo fictício que ela descobre o seu poder de emancipação no mundo real.

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A sua aventura faz-se do encontro com uma série de personagens curiosas e extraordinárias que lhe dão a percepção de que não vida o conformismo é apenas uma das vias a seguir.
Personagens como o Chapeleiro, claro, mas também como os extraordinários Tweedles - um favorito pessoal - ou o delicioso Gato.
Eles são a alternativa mais radical às cinzentas perspectivas de futuro, são parte de um processo de descoberta essencial à vida futura de Alice.

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Numa história sobre a passagem à idade adulta, aquilo que não lhe permite ser perfeita é a necessidade de se cingir a uma ideia muito tipificada de Fantasia, caminhando para uma obrigatória batalha final.
Seria mais interessante que a história se resolvesse pela transformação das personagens, mesmo pelo seu confronto de carácters mas nunca tão físico.

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Parece-me que acima de tudo a narrativa surge como obrigatória para não afastar um público incapaz de aceitar que Alice se limite a atravessar esta Underland.
Alice é uma aventureira, os encontros e as conversas que tem são, eles próprios, a essência da sua história.
As peripécias fazem o caminho à medida que surgem e não se sucedem já com um objectivo à vista.
Aquilo que, para mim, fica como uma fraqueza é essa obrigatoriedade de uma narrativa explícita.

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Afinal de contas, esta história sobre a emancipação poderia viver perfeitamente da mera (mas não menor) construção de personagens e descoberta de um local tão distinto do real.
O discurso atento está lá como fabulosa proposta de entretenimento - onde o 3D assume a função de discreta mas eficaz ferramenta - e era escusado formatá-la tanto a uma suposta ideia de exigência do público.

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