sexta-feira, julho 16, 2010

Dia e Noite

from Split Screen by Carlos Antunes

Título original: Knight and Day
Realização: James Mangold
Argumento: Patrick O'Neill

Se um filme de acção precisa de pouco esforço narrativo para existir porque não utilizar essa mesma ideia para retirar a importância a um olhar mais crítico sobre um filme que é tudo menos uma lucubração sobre o cinema de acção?
Quando de tempos a tempos a narrativa dá um pulo porque os protagonistas estão inconscientes não contestamos o truque, deixamo-nos levar até porque, quando eles acordam, a estranheza da situação origina ainda mais humor.
Knight and Day é um gozo que se usa a si, que usa as expectativas do espectador e que usa todos os códigos do filme de acção para fazer comédia.


Porque, independentemente da acção, é de uma comédia que se trata. Uma comédia com um par romântico - se é que se pode chamar assim - e situações estapafúrdias que dão origem a interacções hilariantes.
Claro que a acção ajuda, levando à hipérbole de todos os momentos de reconhecimento do par.
Os limites não são aqui os mesmos que seriam se eles se encontrassem por mero acaso na rua.
Enquanto ela se arranja na casa de banho ele mata toda a tripulação de um avião. Se ele estivesse a tomar café não haveria oposição, seria apenas a tensão normal do momento de expectativa. Mas se a expectativa se revela um sucesso relativo em que a bebida que tomam juntos é a introdução ao despenho dum avião, não há forma de saber o que ainda sairá dali.
Os actores estão no jogo, levando tudo ao limite do credível e, por isso mesmo, ao limite maior do humor.


Não haveria ninguém mais inteligente a interpretar o papel da loira ingénua do que Cameron Diaz. Energia solta e ironia quanto baste e o papel que podia ser ridículo ou idiota é antes um que nos conquista. E só ela poderia, com segurança e credibilidade, ganhar capacidades lá mais para o final do filme e quase inverter os papéis que os actores estão a jogar.
Quanto a Tom Cruise, sem dúvida alguma que ainda é a estrela que sabíamos que ele era até aos pulos no sofá da Oprah. Cativante, no tom certo, à vontade com o seu papel de acção mas a mostrar o que é o seu talento de apelar ao público.
A dupla e a sua química fazem o filme, claro. Os outros méritos estão lá, mas dois actores inconsequentes, demasiado sérios ou incapazes de se libertarem das amarras do trabalho bem feito teriam deixado o filme sem interesse.


Não quero com tudo isto dizer que a acção seja desprezável. Há momentos muito conseguidos - e outros exagerados, mas nada que não fosse expectável - com destaque para os mais simples, como a perseguição pelos telhados, por exemplo.
Não prevalece a acção, algumas das cenas são reduzidas às suas necessidade e eficiência máxima.
Mas Mangold prova que está em Hollywood à vontade com a tarefa de realizar um filme acima da média dentro do género em que lhe permitem entrar.
Se a História do Cinema se faz dos esporádicos nomes geniais, a evolução do Cinema sempre se fez do grupo alargado de talentosos operários que ocuparam a cadeira de realizador apenas com o critério de fazerem o melhor filme possível a cada momento. Mangold está neste último grupo.
E este seu filme é, sem dúvida, um dos grandes divertimentos do ano.




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