sexta-feira, julho 30, 2010

O toque

Contra todas as expectativas ainda tinha esperança que a campainha tocasse. Tinha cometido a loucura de acreditar no amor. Achava mesmo que todas aquelas histórias que tinha ouvido quando era miúda eram mais do que histórias de encantar... porque se tinham de basear em coisas verdadeiras e não apenas em desejos vãos de almas urgentes de sentimentos. Na sua mente ecoa o fim e no seu coração doiam-lhe as palavras. Sabia que seria o adeus. Sentiu todos os seus sonhos frustrados na pessoa que não deseja ser.
Sentou-se. Olhou para a mão e voltou a sonhar mais um pouco. Imaginou a sua vida como se de um filme se tratasse. Imaginou as palavras certas e trocou-as por um beijo. Pelo o Beijo. Mas sabia que não era real. Se sabia...
A campainha continuava sem tocar. E o seu amor teimava em não aparecer, apesar de estar dentro dela de uma forma que nem ela o conseguia expulsar. Já o tentara fazer por demasiadas vezes. Tentativas frustradas todas elas. Acho que vivia do sonho louco que alimentava dentro de si. E mesmo quando não o alimentava, ele teimava em subsistir. E ela convencia-se que era magia e continuava a tentar. Dizia que o amor tudo podia.
Mas, desta vez, decidira que seria a última vez, como tantas outras mil vezes que o tinha jurado e não cumprido, estava determinada. Tinha-lhe pedido nem um dia sequer, uma noite apenas. Sem ontem nem amanhã, apenas o hoje, a noite. Ela queria uma vida toda mas fizera-lhe o mais pequeno pedido que podia: a noite.
Mas a noite chegou e ele não e a campainha nunca tocou.

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