quarta-feira, janeiro 19, 2011

Vais Conhecer o homem dos teus sonhos

from Split Screen by Tiago Ramos


Título original: You Will Meet a Tall Dark Stranger (2010)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody AllenUma estreia de Woody Allen é sempre um evento. Quer seja um filme excelente, quer fique aquém do esperado, a verdade é que o estatuto atingido pelo cineasta norte-americano lhe permite essa consideração. À velocidade de uma produção por ano, assume-se como um dos mais prolíficos realizadores da actualidade – mesmo que tal continuidade tenha por consequência alguns filmes menos perfeitos. Como tal, começo por dizer – no alto de uma afirmação presunçosa – que a Woody Allen lhe fazia bem uma pausa (tal como a Clint Eastwood que lhe parece querer seguir as pisadas e que estreia também hoje em Portugal uma produção com qualidade abaixo da esperada – Herafter).



Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos não é um mau filme – nenhuma obra do cineasta pode ser considerada como tal – mas limita-se a ser preguiçoso na sua construção, renovando os temas habituais do cineasta sobre o relacionamento entre casais, crises de criatividade, sobrenatural e morte. É uma reciclagem dos temas que consideramos afectos à sua personalidade, uma linha identificadora do cineasta – mas nunca o verdadeiro motivo da irregularidade da sua carreira nos últimos anos.

A verdade é que depois de uma introdução promissora, Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos cai nos clichés habituais, sem nunca entregar um momento de verdadeira originalidade ou de pura criatividade. Se a voz off inicial, com “When You Wish Upon a Star” (tema de Pinóquio, da Disney) como música de fundo, prometia quebrar com o marasmo que o filme parecia indicar, o que se seguiu confirmou os temores. O argumento é monótono em grande parte do filme, com situações forçadas e um ritmo pouco agradável, que no final revela-se absolutamente inócuo e despropositado. É verdade que tem um ponto central potencialmente interessante – a história do escritor frustrado vivido por Josh Brolin – de certo modo semelhante a uma linha trágico-cómica que pontua as suas obras centradas em Londres, mas resume-se a essa potencialidade que nunca se chega a concretizar no seu pleno, criando um filme incompleto. Porque no final, apesar do tom que Woody Allen tenta imprimir na trama, a ausência do significado da história teima em fazer-se pronunciar sobre o restante.



Já o elenco, com demasiadas caras conhecidas, acaba por não revelar grande carisma, com desempenhos mornos - Naomi Watts, Anthony Hopkins, Antonio Banderas e Josh Brolin não estão ao nível a que nos habituaram. Já Freida Pinto (a estrela de Slumdog Millionaire) apresenta uma interessante prestação, que garante ao filme uma luminosidade praticamente inexistente. Ou ainda Gemma Jones (da saga Harry Potter), a crédula e inocente da história e que dá o mote à trama que deu origem ao título do filme ou Lucy Punch, numa divertida caricatura da mulher-objecto e que deve à inteligência (parece-nos que é dos poucos papeis que lhe caberão como uma luva).

Woody Allen continua um realizador interessante – mesmo que algo monótono – do ponto de vista cinematográfico. Os planos-sequência, sem grandes sobressaltos, têm tanto de bom como mau, mas tornam-se numa interessante figura de estilo do cineasta. E continua a rodear-se de bons profissionais da área, que lhe garantem uma sentido irrepreensível do ponto de vista da produção. Desde a fotografia de Vilmos Zsigmond(Melinda and Melinda e Cassandra's Dream), de tons amarelados e iluminação algo metálica, à cuidada direcção de arte de Jim Clay (Match) até aos cenários simples, mas bem distintos, de John Bush (Closer).



Mas a verdade é que no fim de contas, não há razão de ser para Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhose daí que o filme se assuma como um vazio na filmografia de Woody Allen. Uma condição que esperemos que não se torne demasiado frequente no currículo daquele que foi – e continua a ser, achamos – um dos mais criativos e irónicos argumentistas da actualidade.

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