terça-feira, novembro 10, 2015

Ele. Ela.

Ele, era um homem vivido. Seguro de si. Das suas escolhas. Sabia que todas as suas decisões o tinham levado até aquele exacto momento. Talvez por isso não se arrependesse agora dos seus erros. Os fracassos, que antes tanto o incomodaram, faziam agora parte do seu acervo humanitário, faziam de si o homem que se orgulhava ser. Tinha-lhe custado chegar até ali. Tinha-lhe custado os sentimentos. E até as pessoas. Lutará com tantos demónios interiores que já quase nem sabia dizer todos os seus nomes. Mas tinha chegado ali, vencedor. Cansado mas vencedor. Almejando ainda por uma última e derradeira jornada. Aquela que o levaria de volta a si próprio. Aquela que pensara ter feito tantas outras vezes só para chegar ao final e encontrar a desilusão do engano. Não é fácil a busca do resto nosso num corpo alheio. Nem mesmo para um homem. Pelo menos, não para um homem como ele.

Ela, era uma miúda. Podia ser uma miúda, mas não era uma garota. Sabia o que queria da vida. Sempre soubera. Desde muito nova. Talvez mesmo desde sempre. Mas não era uma mulher. Nunca se sentira como tal. Sentia-se perdida na vida. Pensara que, por aquela altura, estaria num local completamente diferente. Que seria outra. Não ela. Aproximava-se terrivelmente daquela idade em que todos os outros já eram alguém. E ela, ainda era ela. Apenas ela. E era esse apenas que a reduzia. Não que não gostasse de quem era, mas sim por acreditar que podia ser tanto mais se ao menos o fosse acompanhada. Talvez fosse isso que a impedisse de evoluir em si própria. De ser mulher. Talvez precisasse de um homem que fizesse dela mulher. O seu coração cheio de sonhos também precisava de afectos. Mas isso já não a preocupava. Sabia que a sua história já tinha começado, mesmo sem a sua autorização. Portanto, era agora apenas uma questão de tempo. Seria apenas mais um apenas.

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