quarta-feira, novembro 04, 2015

Misty Fest - Dom La Nena



Sinopse: 
Os elogios da crítica internacional não têm parado de distinguir a voz, a música, a postura e o trabalho de Dom La Nena. Soyo, o seu novo trabalho, levou o conceituado New Yorker a escrever que todas as suas canções “soam sagradas”.
O disco conta com produção do grande Marcelo Camelo, ele mesmo um artista de méritos mais do que reconhecidos em Portugal, e o cantor e compositor só tem palavras lindas para falar de Dom La Nena. Leia aqui o texto que Marcelo Camelo escreveu sobre ela:

“Dom é exemplo raro das contradições que carregamos. Uma menina doce de rosto franco e olhos determinados, que compõe com frescor germinal as canções que ainda queremos ouvir, canções sobre os sentimentos que nos são tão verdadeiros que as vezes escapam desapercebidos entre as luzes e presenças de apelo mais cintilante. Canções de leveza feminina, de olhar indireto, dos assuntos que se enredam no silêncio.
Tudo parece fazer os olhos correrem no mesmo sentido até ela se sentar ao pé do violoncelo e começar a arrumar-se pra tocar. As luzes diminuem, as cores se intensificam, as paredes se ajeitam, tudo vai tomando outra forma e o ar entre nós e ela se adensa. Seu rosto fica sério de um jeito a conseguir anunciar o que vem. Mas é quando o seu arco encosta nas cordas do violoncelo que você tem verdadeiramente o outro espectro de Dom em estado bruto. Pelo som que ele causa mas também pelo que o som causa nela.
As dualidades se entrelaçam, se enamoram, se confudem e transformam. Não somos capazes de isolar características nossas umas das outras. A compositora encontra a violoncelista que encontra a menina. Todas se tocam. Transformam-se mutuamente em cena criando uma visão destas que pode fazer parar o tempo.
E um tempo parado parece mesmo o apropriado pra ouvir o que ela tem a nos dizer. Uma história não daquilo que é absurdo e excepcional, mas daquilo que encontra seu caminho na sombra dos grandes acontecimentos. A verdade perene escondida injustamente dos menos sensíveis por alguma explosão oportunista. São nossas pequenas saudades, pequenos desencontros, as ausências que nos fazem mais humanos e mais reais.
Dei-me aos seus versos como se fossem meus, com carinho e identificação com ela e suas histórias. Fazíamos graça ao descobrir o samba ou algum dos seus desdobramentos em quase todas as músicas, logo ela gaúcha, crescida em Buenos Aires e residente em Paris. Fazendo ecoar ranchos e rodas de Jacarepaguá, meu bairro de infância no subúrbio carioca. Fizemos isso no estúdio do meu compadre, com a presença do importante Jérôme, companheiro de Dom e muso dos seus feitiços. Embalados por um carinho mútuo e um volume de trabalho que fez as horas parecerem minutos.
!Assim como eu, naqueles dias de inverno todos em volta deste projeto sentiram-se envolvidos pela beleza das canções e pela fluidez com que elas decorrem. Todos se encantaram com Dom e seu mundo e eu me senti honrado e agradecido por estar dentro dele por um breve momento. Testemunhar as suas transformações e a sua alegria viva, poder dançar imaginariamente o samba que está em tudo que é bom, me fez também mais feliz.”

(In)confidência:
Dona de uma voz harmoniosa e melodiosa, Dom La Nena levou até ao pequeno auditório do CCB as músicas que cedo farão parte da minha conta iTunes. A performance apresentada trouxe ao palco um one woman show onde todos os arranjos eram conseguidos através da gravação de samples dos instrumentos à sua disposição: guitarra acústica, tarola e pratos, ukulele, sintetizador, entre outros. Certo é que o talento encheu o palco rapidamente e muitas foram as caras de surpresa quando Dom La Nena disse as suas primeiras palavras em brasileiro, depois de ter interpretado em espanhol. Muito bom!!
Apesar de claramente ser artista para poder ocupar palcos maiores, o público pôde assistir a uma sucessão de músicas muito inspiradas nos locais onde teve as suas maiores experiências: Buenos Aires, Brasil, Lisboa e França. Assim a diversidade musical foi algo muito apreciado e em qualquer ponto do espectáculo houve algum tipo de gosto a ser satisfeito por entre a audiência.
Apesar de ter um início muito suave e calmo, o ritmo das músicas foi subindo e houve até um dance off onde o prémio era um CD de Dom La Nena. Para ganhar os candidatos só teriam de dançar um pouco de samba, em pé, nos seus lugares e, aos poucos, um por um, muitos foram concorrentes. Neste momento, foram convidados alguns elementos do público a subir ao palco para poder dançar e estar um pouco com a cantora. Um momento de festa inesperado que deu o mote para o que se seguiu: ainda mais alegria e partilha.
Um dos momentos mais acarinhados da noite foi uma performance unplugged, sem amplificação vocal que foi mais do que suficiente para encher o palco, a plateia e os corações de todos. Um outro grande momento, esteve intrinsecamente ligado ao que foi o valor de produção deste espectáculo. Som, palco, decoração, timings e iluminação: juntos todos estes elementos tornaram coeso este espectáculo e funcionaram perfeitamente num único momento onde Dom La Nena "magicamente" transferiu luz da sua mão para estrelas que davam mais iluminação ao palco e posteriormente para o público também. Muito carinhoso, muito inocente e sobretudo muito bem executado, tendo em conta o formato one woman show.
Esta foi uma noite que cedo não vai abandonar as memórias de quem teve o prazer de ver esta cantora em palco. Mas será certo que se irão sentir as saudades de ver mais uma performance de Dom La Nena. Uma artista que definitivamente não é para perder de vista!

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